‘Caio e Léo’ chega pra falar sobre a questão homoafetiva no palco
Por Pablo Pêgas
"Caio e Léo" está em cartaz na Lapa (Foto: Divulgação)
O mundo é feito de encontros. Ouço isso desde que comecei a tentar entender gente. São os encontros que nos moldam, nos direcionam, nos descobrem, nos mantém vivos. Existe uma força que comanda e nos coloca, sem acasos, frente a frente. E se pararmos pra pensar na razão dos encontros, muitas vezes nos daremos conta do seu por quê.
Caio e Léo se encontram num píer e enxergam através de suas direções contrárias, confiança um no outro. Um é rocha, firme, duro, impermeável, outro vento, transparente, livre, forte. Os dois pertencem ao grande mar, mas com funções diferentes. Em toda a imensidão azul da peça, eles vão se descobrindo juntos e muitas vezes se perdendo. Os encontros que levam a paixão são belos, mas sempre tendenciosos se não verificarmos sempre o chão onde pisamos. Corremos o risco de nos encontrar tanto no outro que podemos nunca mais nos achar. Caio mergulha em Léo que mergulha em Caio que se afogam em si.
(Foto: Divulgação)
O estranho que se torna próximo vai tendo uma influência substancial sobre nossas decisões. Caio interfere em Léo que interfere em Caio. A vida de um vai abrindo espaço pro outro, ambos vão se tornando dependentes, quase que acorrentados em cada passo que dão. Demora um pouco, mas logo os sonhos começam a ser pensados a dois, o futuro visualizado a dois, espaços preenchidos em função de um simples encontro. A rocha acha que está virando dependente do vento, e o vento, apesar de gostar de onde está, jamais sossegará. Não é de sua natureza a inércia.
Aos poucos, eles vão realmente se enxergando sem idealizações, vão voltando a se ver como da primeira vez, e o píer resinificado se torna sem surpresas o lugar onde a rocha fica e o vento vai. O encontro tem tempo certo pra terminar, nós sabemos que sim, encontro é finito. E assim, o curso da vida segue, corre sendo feito de estranhos que se esbarram, se preenchem e se deixam ir (é claro que existe a possibilidade do reencontro). A vida também pode ser feita de reencontros.
(Foto: Divulgação)
Caio e Léo é uma peça que propõe uma discussão sobre a homoafetividade e a sexualidade. Pode parecer uma história de amor, mas ela pretende ir alem desse lugar. O bonito texto combinado com o cenário feito de pallet ao som de mar cria um ar poético para as cenas. A criatividade em diminuir o tamanho das situações pra acentuar sentimentos como o desespero e a solidão são bem executados. Os atores são dispostos, contudo ainda funcionam como peças inconstantes no palco, geram duvidas, dispersam em corpo e voz.
A utilização do espaço é, por vezes, repetitiva e acarreta uma certa monotonia ao já prever a movimentação. A peça está em cartaz na Sede das Cias, na Lapa, e se você quiser saber mais sobre essa história, é só aparecer por lá nos sábados, domingos ou segundas sempre às 20 horas.
Sinopse
Caio e Léo se conhecem por acaso em um fim de tarde, num píer à beira do mar aberto. Os dois acabam se envolvendo, mas para um deles, no começo, há entraves que impedem um mergulho mais desimpedido… “Até que o vento muda o rumo dessa história”. Léo é fotografo, e Caio é consultor de planejamento. Universos diferentes, com características quase opostas, e permeados por detalhes instigantes que são revelados ao longo da peça e que acabam despertando o interesse e o desejo de um pelo outro.
Serviço:
“Caio e Léo”
Quanto: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia)
Quando: 21 de fevereiro a 23 de março, Sábados a Segundas-feiras as 20 horas.
Onde: Sede das Cias - Rua Manuel Carneiro, 12. Escadaria Selarón - Lapa
Ficha Técnica:
Texto: Rafael Martins
Direção: Yuri Yamamoto
Supervisão: Gilberto Gawronski
Elenco: Ari Areia e Tavares Neto
Preparação Vocal: Danilo Pinho
Preparação Corporal: Andréia Pires
Workshop 1: Antonio Januzeli
Workshop 2: Luiz Fernando Marques
Produção: Gabi Gomes
Administração de Projetos: Ari Areia
Administração Financeira: Tavares Neto
Cabelo: Marcello Rodrigues
Luz: Walter Façanha
Sonoplastia, Figurino e Cenografia: Yuri Yamamoto
Técnica: Rai Santorini e Gabi Gomes
Fotos Studio: Sol Coelho
Projeto Gráfico: Ari Areia
Web Design: Tavares Neto
Ilustrações: Yuri Yamamoto
Apoio: Secretaria Municipal De Cultura De Fortaleza (Secultfor), Escola Porto Iracema Das Artes, Instituto Dragão Do Mar, Sede Das Cias.
Realização: Outro Grupo de Teatro


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