'Getúlio' tem trama coesa e marca nova fase do cinema brasileiro
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(foto: Divulgação) |
• Ano de lançamento: 2014
• País: Brasil
• Língua: Português
• Título original: “Getúlio”
Brasileiro não confia totalmente
no seu mercado audiovisual, isso já não é novidade pra ninguém. Adestrados a
venerar as produções estrangeiras, a audiência brasileira está engatinhando
rumo à apreciação do produto nacional. A história do ex-presidente Getúlio
Vargas também não é nova pra ninguém, então, como agradar a plateia com um
longa como “Getúlio”?
Ao invés de recontar uma história
já conhecida, a trama parte de agosto de 1954, quando ocorre o atentado ao
jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges). O episódio joga o governo de
Getúlio (Tony Ramos) na berlinda, instiga tensão entre
militares e civis e deixa no ar um clima de golpe militar iminente. Com a administração desacreditada,
o então presidente entra em uma espécie de inércia. Além das diversas alegações
de corrupção, o líder vê o governo enfrentar alegações relacionadas ao
homicídio de um oficial da aeronáutica e atentado a um dos maiores jornalistas
do país.
Não cabe a mim julgar o teor
político do longa, que aborda questões como a estatização do petróleo
brasileiro, a criação da Petrobrás e os motivos que levaram à permanência de
Vargas no poder durante quinze anos. O que fica claro ao assistir “Getúlio”
é: o cinema brasileiro está se solidificando. A trama é coesa e segura mesmo ao
apresentar temas polêmicos. Se arrisca ao retratar uma das mais controversas
figuras da história do país com olhos, por muitas vezes, tenros. Getúlio, no
filme, é mais do que ditador. É um pai carinhoso, um homem incapaz de amarrar
os cadarços dos sapatos e que faz questão de jantar feijão com arroz.
No papel do homem-título está um
impecável Tony Ramos. Confesso ter perdido um pouco da fé no ator pós-Friboi,
mas, me rendi ao que vi na tela. Visceral, Ramos constrói um Getúlio na medida
certa. Da primeira a última cena, é impossível tirar os olhos da figura do
ex-presidente. Méritos aos roteiristas, João Jardim, Tereza Moura e George
Frota, que souberam alternar os momentos tensos com situações cotidianas, mais
leves, possibilitando ao protagonista apresentar várias nuances do mesmo
personagem. Se Ramos brilha, na contramão vem
Alexandre Borges. O ator faz com que Carlos Lacerda, conhecido pela eloquência
e personalidade, caia no precipício do exagero caricato. Os gritos enfurecidos
de Borges tiram grande parte do crédito do jornalista, pivô do episódio
explorado durante a trama. Apesar do tropeço de Borges, o elenco em geral é
excelente, com destaque para Alexandre Nero e Daniel Dantas.
Em seu primeiro longa de ficção,
João Jardim deixa rastros da tendência documentarista que lhe é característica
(muito bem exercida, aliás, vide “Janela da Alma” e “Lixo Extraordinário”).
Nomes da política são apresentados com legendas explicativas, episódios são
decupados ao público e traços da vida pessoal de Getúlio são explorados. Vale
ressaltar que a arma usada na cena em que o presidente se suicida é mesmo a
arma manejada por Vargas. O filme superou toda e qualquer
expectativa nutrida por mim, um drama potente, capaz de segurar o expectador na
cadeira. Assim como o feijão do dia seguinte é sempre mais gostoso do que a
recém-cozido, “Getúlio” enaltece uma história que todo brasileiro já
conhece, e oferece uma narrativa insólita. Se o ex-presidente saiu da vida para
entrar na história, “Getúlio” sai das salas de exibição para marcar uma
nova, e promissora, fase do cinema brasileiro.
Assista no player abaixo o trailer do filme:


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